A eleição acabou. A vigilância deve permanecer
Ufa. Acabou. Como país, definimos que os absurdos perpetrados por Bolsonaro não merecem mais quatro anos de comando. Elegemos Lula. Fico aliviado. Mas não feliz.
Sabemos sobre como Lula conduziu seus governos. Os lados bons e os ruins. Temos no entanto, um novo contexto. Juntando esses elementos, precisamos de atenção a diversos pontos (logicamente, não exaustivos):
- Corrupção: discutir se Lula é inocente ou “descondenado” é um exercício fútil. O fato é que houve corrupção no governo Lula. E muita. Diferente de Bolsonaro, entretanto, a PF de fato teve mais espaço para investigação, talvez por uma crença na impunidade. No fim, tivemos o lunático do Moro colocando a seriedade da lava-jato em xeque. Mas um novo governo Lula terá a mesma postura de autonomia da PF dadas as prisões após o seu mandato? Iniciativas de transparência voltarão à pauta? Ver Dirceu comandando a lista de ministros e atuante na campanha, não é uma boa sinalização. É necessária a manutenção da vigilância.
- Orçamento secreto: o Congresso ganhou muita força durante o mandato de Bolsonaro. E o Congresso atual é de oposição majoritariamente. Porém o Centrão está lá, firme e forte. Para atingir governabilidade, o governo do PT manterá esse instrumento conducente à corrupção ou o desmontará? E se o fizer, qual será a estratégia para atingir governabilidade?
- Economia: a “carta para o futuro” do governo Lula, do ponto de vista econômico, não deveria deixar ninguém tranquilo. Por mais que, no finzinho esteja escrito “responsabilidade fiscal” antes disso, lemos uma série de políticas de expansionismo fiscal que não são condizentes com as possibilidades de nossa economia. Expansão de estatais não é algo que tenha funcionado bem até aqui. Importante entender quem de fato comandará a economia para que as necessárias reformas sejam conduzidas, a inflação seja contida e as prioridades sejam bem delimitadas de modo a construir uma base sólida de crescimento econômico, algo não realizado nos mandatos anteriores de Lula quando, mesmo com o boom das commodities, não tivemos mecanismos de estruturação de nossas indústrias em longo prazo
- Pautas sociais: não acredito que, com o Congresso eleito, haja condições para que pautas progressistas avancem. O trabalho será para não termos retrocessos. É fundamental avançar com cuidado. Vivemos em um país conservador e o avanço das igrejas evangélicas atualmente leva a um recrudescimento do reacionarismo. Importante a aproximação com lideranças evangélicas progressistas e a escuta e atenção à população mais conservadora que não se sente representada. Em tempo, espero que consigamos encontrar mecanismos de diálogo que permitam novos avanços.
- Regulação da mídia: a mídia é regulada. Sempre foi. A constituição de 88 e o Marco Legal da Internet são fundamentais para garantir que haja uma liberdade de expressão dentro de limites legais. Entretanto, durante a eleição das fake news de 2022, a postura do TSE beirou ao autoritarismo, uma reação aos testes aos limites legais por parte de elementos da direita radical e por veículos como a Jovem Pan que aderiram ao Bolsonarismo. O governo tem que tomar cuidado com a condução dessa discussão, mas é importante que ela exista até para que o Judiciário não aja de forma desequilibrada. Uma discussão da regulamentação das mídias sociais nos moldes daquelas da União Europeia e Reino Unido seria necessária.
- Educação: por mais importante que seja, no governo Lula anterior, houve muito foco no Ensino Superior. Um maior equilíbrio é necessário aqui, privilegiando investimento fundamental nos anos iniciais. O desastre deixado pela pandemia faz com que seja necessário um forte foco em políticas de reforço escolar efetivas e um alinhamento entre entes federativos.
Por fim, Bolsonaro foi derrotado nessa eleição. Mas o Bolsonarismo está vivo e forte como nunca. Não podemos nos acomodar com essa vitória temporária. Quem se enxerga como esquerda há de entender que sem uma direita ponderada e razoável atuante, o Bolsonarismo permanecerá forte. E que Lula não será a resposta eterna. Há de se ir além do Lulismo também. Quem se enxerga como direita, há de entender que houve uma rejeição a exageros radicais que atentam contra a vida. Os limites foram traçados.
Torço verdadeiramente, por um governo Lula economicamente equilibrado aliando responsabilidade fiscal com o bem estar daqueles que necessitam. Um governo que nos permita não retroceder em termos sociais. Onde o meio ambiente tenha a devida atenção. Onde a educação deixe de ser pauta ideológica e passe a ser pensada a partir das reais necessidades dos alunos. E onde a governabilidade seja alcançada sem corrupção e onde transparência seja a tônica.
Temos que, nos próximos quatro anos, construir alternativas melhores e que possam nos trazer a uma sociedade pautada no bom diálogo. É por isso que pretendo trabalhar.